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Ano novo, carta nova

19 de janeiro de 2022
Bravo GRC

Com esse título saúdo a chegada, no início de 2022, da nova carta aos CEOs das empresas nas quais a BlackRock investe, tão esperada pelo mercado financeiro e, na verdade, por todos os líderes conscientes, carta essa que Larry Fink – CEO e Chairman, nos presenteia desde 2008 na crise do subprime. 

Comecei a acompanhar seus textos com esperança de uma mensagem que tocasse os corações e mentes dos líderes, não apenas de suas investidas, mas de todo planeta, pois sendo o maior fundo de investimentos do mundo, se não sensibilizasse esses líderes pelo emocional, iria sensibilizá-los pelo racional – atingindo diretamente no bolso. As pessoas mudam pelo amor ou pela dor, mas mudam. 

A primeira vez que ouvi sobre suas cartas foi no início de 2017 quando Raj Sisodia, cofundador do Conscious Capitalism, professor emérito do Babson College e autor de inúmeros livros, veio mais uma vez ao Brasil para o lançamento de seu livro em coautoria com Nilima Bhat – “Liderança Shakti – O equilíbrio do poder do feminino e masculino nos negócios”. Me contou de um encontro que tinha tido com Larry Fink no ano anterior para falar de Capitalismo Consciente e isso me impactou muito, pois acreditei que, depois desse momento, começaríamos a criar uma tração em direção a um Capitalismo de Stakeholders provocados pelas palavras deste líder financeiro.  

Naquela carta, vi o quanto falava sobre Propósito e aqui trago o trecho que mais me impactou: “Prezado CEO, (como todas as suas cartas começam) 

Para prosperar ao longo do tempo, todas as empresas não só devem oferecer desempenho financeiro, mas também mostrar como isso contribui positivamente para a sociedade. As empresas devem beneficiar todas as partes interessadas (stakeholders), incluindo acionistas, colaboradores, clientes e as comunidades em que operam. Sem um Senso de Propósito, nenhuma empresa, de capital aberto ou fechado, pode atingir seu potencial. Em última análise, perderá a licença para operar entre os principais interessados. Ela sucumbirá a pressões de curto prazo para distribuir ganhos e, no processo, sacrificará investimentos em desenvolvimento de sua gente, inovação e gastos de capital que são necessários para o crescimento a longo prazo. 

Além disso, o Conselho é essencial para ajudar uma empresa a articular e perseguir seu Propósito.”  

Passei a usar esse trecho em todas as minhas palestras, pois afinal tinha uma ratificação muito respeitada do que acreditávamos no Capitalismo Consciente, aqui no Brasil. 

Esse assunto foi reforçado em 2019 pelo US Round Table, compromisso assinado por 181 CEOs das principais empresas e marcas nos EUA e novamente ecoou em Davos no World Economic Forum de janeiro de 2020, um pouco antes de nos vermos às voltas com o sofrimento que nos trouxe a pandemia da Covid-19.  

Na carta de 2020, trouxe uma mensagem muito provocativa sobre a necessidade das empresas, efetivamente, abraçarem os pilares do ESG (Ecoambiental, Social e Governança), não apenas como retórica, mas como ação e, mais do que isso, com um compromisso sustentável pelos anos à frente para proteger o meio ambiente, diminuir as desigualdades sociais e gerar resultados econômicos positivos, com ética e transparência.  

Agora na carta de 2022, volta a ratificar a importância do Capitalismo de Stakeholders (partes relacionadas): “O Capitalismo para Stakeholders não é sobre política. Não é uma agenda social ou ideológica. Não é um “acordado”. É o capitalismo, impulsionado por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os colaboradores, clientes, fornecedores e comunidades em que sua empresa depende para prosperar. Este é o poder do capitalismo. (…) é por meio do Capitalismo para Stakeholders que o capital é alocado de forma eficiente, as empresas alcançam lucratividade durável e o valor é criado e sustentado no longo prazo”. 

Aborda a aceleração das transformações impostas pela pandemia da Covid-19 principalmente por meio da tecnologia, que conseguiu mudar negócios e a forma como os colaboradores trabalham e como os consumidores compram. Muitos negócios estão surgindo e outros, infelizmente, estão desaparecendo.  

Nenhum CEO foi treinado ou sequer preparado para enfrentar uma mudança tão brutal num espaço de tempo tão pequeno e numa velocidade tão rápida. O papel do líder é dar aos outros algo para acreditarem, muito além de algo apenas para fazerem. Mas quem deu a esses CEOs as mesmas esperanças, sonhos e certezas? O processo foi e está sendo muito estressante para todos, mas para os líderes ainda mais. Por isso, felizes são os CEOs de empresas que têm Propósito e Valores fortes, e conseguem engajar seus colaboradores para que estes transmitam aos seus clientes, fornecedores e comunidades. Assim, vão garantir a passagem por essa turbulência de uma forma mais resiliente e sairão mais fortalecidos.  

Voltando à carta de 2020, como efetivamente fazemos a interconexão entre Capitalismo e ESG? Quando foi focado que risco climático é risco de investimento e risco de investimento é risco de negócio? Será que aprenderemos com os impactos da pandemia? Partiremos para ações efetivamente sustentáveis e com metas transparentes e atingíveis? Por exemplo, temos muitos desafios no Brasil para reduzirmos todas as desigualdades sociais e aquelas que estão presentes no mundo corporativo como gênero, raça, credo, orientação sexual, PCD, remuneração, condições de trabalho etc. Não bastasse darmos foco a essas questões, as empresas também têm compromissos com operações carbono-zero muito antes de 2050. Qual é o papel que você, como líder, vai assumir? Liderar as transformações, ser protagonista e fazer a diferença, ou ser liderado e correr atrás destas transformações que vão custar mais e colocar você e sua empresa no limbo? 

Nesse novo mercado, qual o papel também das startups? Larry Fink prevê que os próximos 1.000 unicórnios serão inovadores, sustentáveis e escaláveis, pois serão empresas que irão ajudar o mundo na descarbonização e potencializarão a transição energética acessível a todos os consumidores.  

Traz uma provocação que adorei: “devemos focar em sustentabilidade não porque somos ambientalistas, mas porque somos capitalistas e temos responsabilidade fiduciária com nossos stakeholders”. Porém, um ponto crucial é fato: num país tão desigual como o Brasil, as mudanças não serão no mesmo ritmo e gerarão o mesmo impacto nas diversas regiões do país, mais uma razão para que ESG não seja diferencial competitivo, mas sim diferencial cooperativo.  

Mudar para uma economia de carbono zero, menos desigual, não é tarefa simples, nem de apenas uma empresa ou “clubinho das legais”, mas sim de todo ecossistema de stakeholders. Muitos concorrentes do mundo da escassez terão que aprender a serem concorrentes num mundo da abundância. Os tais “diferenciais competitivos sustentáveis” não poderão ser melhor governança, menos desigualdades sociais e total compromisso com o meio ambiente. Mas com certeza as empresas que enxergarem essas questões, não por oportunismo e ganhos financeiros de curto prazo, mas como pilares de sua Governança, pois seu Propósito e Valores assim direcionam, vão atrair os novos e qualificados talentos, os melhores e mais fiéis consumidores e os melhores investidores.  

As empresas que praticam um Capitalismo de Stakeholders serão as únicas que sobreviverão nas próximas décadas, mas mesmo sendo importantes catalisadores de mudanças na sociedade não conseguem fazer tudo sozinhas, precisarão do apoio do governo e órgãos reguladores, com leis e impostos corretos e justos, também precisarão dos apoios dos cidadãos como colaboradores, clientes, fornecedores ou comunidade. Mas para isso, as empresas precisam se mobilizar no caminho do diálogo e do exemplo, como foi durante a pandemia quando laboratórios e governos se uniram na corrida da vacina para a Covid-19 e conseguiram o seu desenvolvimento, distribuição e aplicação em tempo recorde. Continuamos vendo um diferencial social importante nessa questão também, pois enquanto os países ricos e emergentes não apoiarem a vacinação em massa dos países pobres, continuaremos sofrendo com as mutações do vírus e com as novas variantes, muito mais contagiosas e talvez mais letais.  

Por que falar de Capitalismo de Stakeholders é tão importante? Porque se a sua empresa ainda estiver vivendo na década de 1970, acreditando que a sua “única responsabilidade social é maximizar o lucro e retorno do seu acionista”, fingindo que não vê que muitas vezes isso se dá às custas da dor, sofrimento e misérias dos demais stakeholders, ela não tem como falar em ESG. Por que a sua empresa estaria interessada em cuidar do social e do ecoambiental? 

No final de sua carta deste ano, Larry Fink traz o desafio de criar um Center for Stakeholder Capitalism – (Centro de Capitalismo de Stakeholder na tradução livre), onde propõe um fórum de pesquisa, diálogo e debate. Propõe reunir os principais CEOs, investidores, especialistas em políticas e acadêmicos para compartilhar suas experiências e fornecer seus insights. Que ótimo, mas aqui tenho um convite ao Larry Fink e ao Carlos Takahashi, para aproximar essa incrível iniciativa e pensamento positivo, com aquele que o Instituto Capitalismo Consciente Brasil vem construindo no país junto aos CEOs, investidores, colaboradores e consumidores há 8 anos e no mundo há 13 anos.  

E você CEO, o que está esperando para iniciar a jornada rumo ao seu Propósito, suportada pelos seus Valores, na ratificação que um negócio é bom porque gera valor, é ético porque é baseado numa troca voluntária, é nobre porque eleva a nossa existência e heroico porque tira as pessoas da pobreza e gera prosperidade? 

Convido todos a lerem a carta na íntegra. Vamos evoluir para o Capitalismo de Stakeholders, que gera bem-estar e riqueza para todas as partes relacionadas, enquanto maximiza o retorno justo ao acionista. Entender que, ao constituir um Contrato Social e criar uma Razão Social, a sua responsabilidade vai muito além de seus sócios, já que ela precisa alcançar a Sociedade como um todo. 

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