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Índices ESG como guias no processo de tomada de decisão de investimentos 

4 de janeiro de 2024
Claudinei Elias e Suelen Silva

Os índices de meio ambiente, social e governança (ESG) têm desempenhado um papel crucial no alinhamento entre as empresas e o mercado financeiro, facilitando a comunicação eficiente de performances ESG. Mas como a gestão de riscos e a tomada de decisão baseada nesses índices podem ajudar as empresas a atrair mais investidores e orientar os investidores em suas decisões? 

O principal negócio das empresas hoje, em tempos de ESG, em especial as empresas de capital aberto, é gerar performance com princípios. Para que isso ocorra, é necessária uma estrutura sólida de governança que tem como um de seus principais pilares a gestão de riscos. Os riscos são cada vez mais numerosos, mas as oportunidades também. Proteger performance e reputação é um grande desafio, levar clareza aos investidores, um desafio ainda maior. Mas é possível dar transparência para investidores sobre como as grandes empresas estão gerindo eficientemente seus riscos.  

Os indicadores podem ser um bom e natural caminho. O processo de análise no mercado financeiro das companhias se pauta em análises das ações das empresas (podendo ser de diversas naturezas a depender do analista, mas muitas vezes fundamentalistas), as quais se baseiam nos indicadores publicados pelas corporações.   

O objetivo é identificar empresas que têm uma boa tese para receber investimentos. Em consonância com os indicadores financeiros, os indicadores ESG passam a constituir a visão de performance com princípios da companhia em análise. 

Do lado das empresas, gerir riscos eficientemente se pauta em analisar e antecipar cenários que impactarão os resultados das companhias no curto, médio e longo prazo. Riscos ESG estão entre os mais novos e dinâmicos deles.  

Se a alta liderança exercitar análises de cenários, vai se deparar com questões crescentes ligadas à matriz energética, a quanto suas operações contribuem para um ambiente climático hostil (poluição), à força de trabalho e a ações de anticorrupção, transações internacionais (câmbio, regulações), dentre outras.   

Em uma visão de riscos corporativo, na alta gestão, poderíamos acrescentar oito riscos como objeto de análises e criação de indicadores: 

1. composição da força de trabalho (etarismo, gênero, competência, dentre outros);  

2. transição energética (matriz e pegadas); 

3. riscos climáticos/financeiros; 

4. riscos das demonstrações financeiras;  

5. deterioração do ambiente geopolítico;  

6. riscos tecnológicos (transformação digital, segurança da informação);  

7. riscos da cadeia de suprimentos; 

8. riscos sistêmicos (pandemia, dentre outros). 

Do lado do mercado financeiro, o movimento não é diferente. Com um volume expressivo de atração de investimentos, atingindo em torno de 2,5 trilhões de dólares direcionados para fundos ESG em 2022², os analistas devem estar atualizados quanto às demandas do mercado. Compreender os impactos nos investimentos e a rentabilidade das companhias, ou como representam esses aspectos nos indicadores apresentados, é fundamental para o processo de análise de investimentos nos próximos anos e deve ser incorporado.  

O tema ESG e atração de investimentos rendeu índices específicos mundo afora, estando hoje presente em 135 países¹ nos quais empresas são colocadas em patamares com seus pares e setores em uma espécie de comparação sobre os avanços dos indicadores atrelados às agendas ESG. E mais, o assunto é mais antigo do que se imagina. Neste ano, o icônico benchmarking mundial de índices ESG, o Dow Jones Sustainability Index, completará 25 anos de existência. Nos últimos anos, a indústria financeira ESG cresceu muito, potencializando o processo de inputs de indicadores ESG na gestão das grandes empresas. Um bom exemplo disso é o The Sustainability Yearbook 2023 – S&P Global, o qual recomendamos muito que todos vejam e analisem, pois nele se encontram as principais empresas que se destacam pelas práticas de negócios sustentáveis no mundo todo. É um exemplo de ponta de práticas ESG em grandes corporações. 

Mas se ESG é tão promissor assim, por que empresas e mercado ainda encontram dificuldades na hora dos investimentos?  

Surge nessa questão um dos maiores desafios para os dois lados: a padronização para a compreensão dos resultados. ESG é um processo que está acontecendo, trata-se de um processo contextual, ou seja, que se relaciona com a realidade das empresas considerando seu setor e localização geográfica de atuação. Sendo assim, muito normal e eficiente encontrar processos de reestruturação e melhorias contínuas. Isso mesmo: daqui para frente, não existe fim, mas continuação, transformação. E a questão da padronização e interpretação dos indicadores tem sido um importante ponto de fricção para destravar os investimentos. 

A relevância dos índices

Empresas e mercado financeiro por vezes ainda não falam a mesma língua para ESG. São muitos frameworks. E é exatamente nesse contexto que os índices ganham muita relevância. A relevância de conseguir alinhar a comunicação dos indicadores para o mesmo nível de compreensão de mercado quanto as informações que devem ser analisadas e as informações a serem divulgadas pelas empresas.  

Os assessments (questionários) que as empresas respondem para poderem fazer parte de algum índice já compõem questões que, por si, poderiam ser um guia estruturação de governança, riscos e compliance para as organizações. Estruturados sob a vanguarda de pesquisas e estudos na área, esses assessments reúnem o melhor que podem oferecer em termos de visibilidade de práticas, políticas e investimentos que rondam a esfera ESG das corporações.  

Ao mesmo tempo que guiam as empresas, esses assessments buscam levar aos investidores as informações mais relevantes para a sustentabilidade dos negócios, promovendo uma visão do uso dos recursos para uma lucratividade a longo prazo, preservando a reputação da empresa e o dinheiro dos investidores. 

O papel dos índices ESG na Comunicação Empresarial 

Os índices ESG fornecem uma estrutura para as empresas divulgarem informações importantes de maneira padronizada e facilmente compreensível. Ao se alinharem a esses índices, as empresas são capazes de expressar claramente o nível de seu compromisso com os princípios de ESG, evidenciando o seu comprometimento com a sustentabilidade, justiça social e boa governança. Esse compromisso é importante não apenas para atrair investidores conscientes sobre os aspectos ESG, mas também para proteger a reputação da empresa e assegurar a confiança dos stakeholders, demonstrando um caminho mais natural para o alcance de performance com princípios. 

Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) como precursor 

O ISE é um importante precursor na promoção dos fundamentos de sustentabilidade. Ele oferece uma medida quantitativa do desempenho ESG de uma empresa, permitindo a comunicação eficaz e transparente dos esforços de sustentabilidade de uma empresa aos seus investidores. Este índice proporciona um meio de avaliar e comparar o desempenho ESG das empresas, incentivando uma competição saudável para a melhoria contínua. 

Índices ESG e tomada de decisão de investimento 

Os índices ESG procuram fornecer aos investidores uma visão clara e objetiva da performance ESG de uma empresa. Essas informações permitem que os investidores incorporem considerações ESG em suas decisões de investimento, ajudando-os a identificar empresas que estejam alinhadas com seus valores e expectativas. Por meio do uso desses índices, os investidores podem diversificar seus portfólios para incluir empresas que demonstram responsabilidade ESG, mitigando potenciais riscos e contribuindo para uma economia mais sustentável. Naturalmente, esses índices estão em constante evolução, mas são um bom caminho que já carregam consigo uma certa estrutura. 

 O ISE B3 é um bom exemplo, um dos índices mais antigos do mundo. Criado há quase duas décadas, surgiu com o objetivo de ser uma referência robusta de registro e compartilhamento do fundamento do que estamos vivendo em termos de sustentabilidade, buscando ser o indutor de boas práticas de responsabilidade provocadas por agentes do mercado, além de instigar as empresas a seguir uma agenda de responsabilidade corporativa sustentável. 

Na estruturação de seu questionário, o ISE B3 traduz o mundo em que vivemos:  um momento histórico de transição do seu modelo de produção, consumo e capitalização. Como saber se empresas estão se adaptando? Esse é o ponto mais alto de dificuldade sobre a compreensão das práticas ESG nas empresas, por parte dos investidores. Essa questão é inerente a qualquer índice e reflete na busca por saber o quanto a empresa está contribuindo em impacto e financeiramente neste cenário inevitável de transição para um novo paradigma de produção e consumo.   

Isto significa que medir a sustentabilidade é calcular o quanto a empresa contribui para essa transição (“materialidade de impacto”) e entender em que magnitude aufere vantagens ao ser parte integrante e aderente deste novo cenário (materialidade financeira).  

Para cumprir tal objetivo, o olhar sob o qual o ISE B3 foi construído busca trazer uma visão holística da existência de práticas, políticas e processos. Sendo assim, o conceito da dupla materialidade esteve presente desde o seu início até os dias atuais. Considerado o olhar mais completo, dado pela atualidade, a dupla materialidade busca trazer o duplo impacto — financeiros e não financeiros —, colocando as duas materialidades com prioridades de igual importância. Dessa forma, as correlações poderão ser feitas de forma mais coerente e precisa. 

Assume-se, assim, que, se uma empresa tem boas práticas, boas políticas e processos bem estabelecidos, ela trará bons resultados e impactos positivos para a organização e para os seus stakeholders. Por conseguinte, o ISE B3 endereça a complexidade da sustentabilidade e de práticas ESG ao assumir uma carteira mostrando o arcabouço das empresas que o compõem e dando visibilidade sobre seus resultados, de forma que os investidores tenham acesso a dados que os permitam tomar decisões e desenvolver estratégias de investimento, tendo em vista seus setores de atuação. 

Performance ISE B3

Como um dos resultados, as empresas elencadas no ISE apresentam uma menor volatilidade quando comparadas às empresas listadas no índice B3. Desde que foi criado, em 2005, o ISE B3 apresentou performance de 267,06% contra 228,42% do Ibovespa (base de fechamento em 30/12/2021). Em dezembro de 2021, o ISE B3 ainda teve ainda menor volatilidade: 16,72% em relação a 19,71% do Ibovespa (fonte b3- ref.6). 

Implicações práticas 

Na prática, os gestores das empresas devem considerar os índices ESG como parte integrante de sua estratégia de comunicação. Isso envolve a identificação de iniciativas relevantes de ESG e a implementação de medidas para melhorar o desempenho nessas áreas. Os investidores, por outro lado, podem utilizar os índices ESG como uma ferramenta para avaliar o desempenho das empresas e guiar suas decisões de investimento. Este é um passo importante para o investimento responsável e para a promoção de uma economia mais sustentável. 

Por vezes, o ESG parece algo novo para as companhias. Independentemente do nível em que se encontram nessa agenda, deve ser encarado pela alta gestão e ser desenvolvido. Em um curto espaço de tempo, as empresas que não foram aderentes as boas práticas ESG terão destaque, afetando negativamente a sua imagem, seus retornos e a sua atração em investimentos. 

O fato de a empresa ter como objetivo estar dentro de um índice ESG garantirá um desenvolvimento sustentável em práticas e políticas que, sem dúvidas, aprimoram a gestão e solidificam os objetivos estratégicos e seus resultados no médio e longo prazo. 

A teoria da racionalidade limitada 

A teoria da racionalidade limitada (bounded rationality), proposta por Herbert A. Simon, é uma abordagem que sugere que a racionalidade dos indivíduos é limitada pelas informações disponíveis, pelas limitações cognitivas de suas mentes e pelo tempo finito que têm para tomar decisões. 

Ao contrário do conceito de homo economicus, que presume que os agentes econômicos têm acesso a todas as informações relevantes e são perfeitamente racionais em suas decisões, essa teoria reconhece que a tomada de decisões ocorre sob condições de incerteza e recursos limitados. Simon argumentou que, ao invés de buscar a opção ótima, os humanos normalmente se contentam com uma solução “satisfatória”, que seja boa o suficiente dada as circunstâncias. Esse comportamento é chamado de “satisficing“, uma combinação de “satisfying” (satisfazer) e “sufficing” (suficiente). 

A racionalidade limitada está fortemente relacionada à gestão de riscos e tomada de decisão. Ao tomar decisões sob incerteza, a gestão de riscos precisa levar em consideração as limitações da informação disponível, o tempo para tomar decisões, a capacidade de processar informações e a aceitabilidade das soluções. A teoria da racionalidade limitada pode sugerir que a melhor prática em gestão de riscos não é necessariamente eliminar todos os riscos, mas sim identificar e gerir os riscos de maneira satisfatória, levando em conta os recursos e informações disponíveis. Esta perspectiva pode levar a abordagens mais pragmáticas e realistas na tomada de decisões de gerenciamento de riscos

Logo, há uma procura por uma decisão racional sobre as teses de investimento, ao passo que os índices podem trazer aspectos para redução da incerteza e compreensão dos riscos. 

Junto a isso, a implementação de estruturas robustas de governança e gestão de riscos não são apenas vitais para a mitigação de riscos, mas também servem para demonstrar o compromisso da empresa com a sustentabilidade. Essa demonstração de responsabilidade e compromisso tem o potencial de atrair um maior número de investidores. 

Ao implementar efetivamente estratégias ESG, as empresas podem se posicionar como líderes em seus setores, estabelecendo um padrão para a responsabilidade ambiental, social e de governança. Isso pode resultar em vantagens competitivas significativas, além de contribuir para a construção de uma economia global mais sustentável e equitativa. 

Dentro dos índices ESG, e o ISE em particular representam uma ferramenta essencial na comunicação de desempenho ESG entre as empresas e o mercado financeiro. Através de uma gestão de riscos eficaz e uma tomada de decisão informada, as empresas têm o potencial de atrair mais investidores para seus negócios, enquanto os investidores podem se beneficiar de decisões de investimento mais seguras e sustentáveis. Assim, a adesão aos princípios ESG pode servir para melhorar a performance das empresas, beneficiando não só a empresa e seus investidores, mas também a sociedade como um todo. 

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