PT EN ES

A tecnologia como saída para enfrentar eventos climáticos 

5 de setembro de 2024
Claudinei Elias

Enchentes, deslizamentos, queimadas, furacões, terremotos… São tantos os eventos climáticos extremos que temos observado recentemente que não há como negar o aumento de frequência e a extensão dessas tragédias. Só nos últimos meses, vimos o Rio Grande do Sul sofrer a pior enchente de sua história, o Pantanal bater recordes de queimadas, e Dubai ficar inundado de uma forma nunca antes vista. O mundo está mais volátil do que nunca! 

Em 2023, os prejuízos econômicos decorrentes desse tipo de catástrofe chegaram a U$380 bilhões, segundo um levantamento da consultoria internacional AON. Pensando no território brasileiro, apesar de ainda não termos uma dimensão total das perdas no Rio Grande do Sul, os valores já ultrapassaram R$3,9 bilhões em indenizações, R$2 bilhões de prejuízo financeiro do setor público, R$1,1 bilhão no setor privado e R$4,4 bilhões no setor habitacional. 

Paralelamente a esse caos ambiental e socioeconômico, o avanço tecnológico da última década nunca foi tão forte. Tecnologias como supercomputadores, satélites e sensores remotos têm gerado uma quantidade massiva de dados sobre índices pluviométricos, emissões de gases e níveis do mar. Plataformas de monitoramento de desastres naturais, inicialmente utilizadas para prever furacões, tsunamis e terremotos, evoluíram para uma nova esfera, permitindo agora a previsão de excessos de chuvas, enchentes e até secas. Além disso, temos tecnologias emergentes como drones, AIoT (Inteligência Artificial das Coisas) e sistemas de gerenciamento de águas e recursos hídricos. 

Essas tecnologias e modelos matemáticos fornecem informações críticas sobre o potencial de catástrofes. No entanto, apesar de sua disponibilidade, ainda enfrentamos tantas calamidades ambientais. Será que a tecnologia está realmente sendo utilizada de forma eficaz para mitigar esses prejuízos e evitar riscos? Quais tecnologias podem ser empregadas? E, mais importante, o Brasil está preparado para utilizá-las? 

Desafios na adoção tecnológica 

Enquanto países europeus, como Alemanha e Noruega, além do Canadá, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, já possuem avanços significativos na adoção de tecnologias de prevenção e gestão de desastres, o Brasil ainda carece de uma “gestão de resposta de emergência” adequada, que inclua sistemas de “avisos antecipados”. Existem estudos e planos elaborados, mas o principal obstáculo é a falta de investimento, principalmente no setor público. No setor privado, o problema não é necessariamente a ausência de tecnologia, mas sim a falta de conhecimento sobre quais tecnologias utilizar e como integrá-las de maneira eficaz na governança corporativa

Conhecimento e capacitação: o primeiro passo 

Muitas empresas não sabem por onde começar ao adotar essas tecnologias. Um dos desafios é a falta de conhecimento técnico e estratégico para selecionar as ferramentas certas. Drones, por exemplo, podem ser usados para monitorar áreas de risco de deslizamentos ou queimadas, mas sua eficácia depende de uma análise prévia dos dados capturados e da implementação de um plano de ação baseado nessas informações. Sem a capacitação adequada, essas ferramentas podem acabar sendo subutilizadas ou até mesmo ignoradas. 

Exemplos práticos de tecnologias aplicáveis 

  1. Drones e Sensores Remotos: capazes de monitorar vastas áreas de forma precisa, os drones podem identificar padrões de risco e fornecer dados em tempo real para decisões rápidas. 
  1. AIoT (Inteligência Artificial das Coisas): essa tecnologia pode integrar dados de diferentes fontes (como sensores ambientais, satélites e sistemas de previsão meteorológica) e utilizar a inteligência artificial para prever eventos climáticos com maior precisão. 
  1. Sistemas de Gerenciamento de Águas: essenciais para a prevenção de enchentes, esses sistemas permitem um controle mais eficiente de recursos hídricos, evitando transbordamentos e otimizando o uso da água em tempos de seca. 

Planejamento e Gestão de Crises 

Além da adoção dessas tecnologias, é imprescindível que as empresas desenvolvam Planos de Continuidade de Negócios e estratégias robustas de Gestão de Crises. Esses planos devem ser baseados em uma visão clara e abrangente dos riscos aos quais a empresa está exposta, considerando os cenários climáticos mais prováveis. Um planejamento eficaz não apenas mitiga os impactos imediatos de um desastre, mas também prepara a organização para uma recuperação mais rápida e resiliente. As tecnologias podem fornecer os dados necessários para essa análise de riscos, permitindo que as empresas criem estratégias proativas, em vez de reativas, diante das ameaças ambientais. 

Apesar de várias empresas brasileiras já estarem usando algumas dessas ferramentas, muitos estados ainda deixam a desejar nesse quesito. Durante muito tempo, planos para eventos climáticos extremos foram negligenciados, mas, com as mudanças climáticas e as consequências visíveis, esse panorama começa a mudar. O desafio agora é assegurar que as tecnologias sejam não apenas adotadas, mas também compreendidas e integradas de maneira eficaz, para que as empresas possam realmente se preparar e responder a esses desafios com maior resiliência. 

uma empresa