Nenhuma organização está imune ao erro. Comandada e tendo suas culturas organizacionais tocadas por pessoas, o indivíduo então toma uma posição de suma importância na vida da organização, e como tomador de decisão, passa a interferir em toda a cadeia de valor que pode afetar a todos os stakeholders.
Com o poder que o cargo e as organizações lhes conferem, estes indivíduos, agora denominados líderes, gestores e executivos têm o poder das escolhas, sejam elas de forma unitária ou em grupo. E por que falamos primeiro sobre pessoas? Porque este texto se predispõe a olhar a parte de conflito de interesses dentro das organizações.
Sabidamente, o conflito de interesses representa uma esfera conhecida que pode colocar a companhia em riscos financeiros e reputacionais capazes de arrastar o nome da empresa para o rol das empresas nada confiáveis ou “trambiqueiras”, elencando perdas numéricas, por vezes, irrecuperáveis.
Considerando que pessoas tomam decisões e se relacionam, a ideia principal aqui é assumir o conflito de interesses como um risco e assim como tal, muitas vezes não se deve ter esforço para eliminá-lo e sim para assumi-lo e geri-lo da melhor forma possível: entendimento das inúmeras situações dentro da companhia, com escolhas transparentes, processos de escolha de fornecedores e parceiros de forma definida e uma comunicação clara com os superiores.
Assunto bastante discutido e observado nas corporações, considerando principalmente o traço cultural latino/brasileiro, podemos considerar que as relações de negócios no Brasil carregam um peso grande e de valor alto, portanto não se trata de extinguir práticas de negócios entre familiares e entes próximos, mas sim o de torná-las o mais transparente possível dentro das organizações, e suas justificativas para a sua existência. Temos que ter atenção à Cultura de Riscos da empresa.
Não distante dessa realidade, e levando em consideração que muitos dos que nos leem já vivenciaram alguma situação de conflito de interesses ou conhecem alguém que vivenciou, as corporações e bolsas de valores mundo afora dedicam parte de seus relatórios de governança ao um capítulo o qual podemos denominar de Ética, em que o conflito de interesses é abordado de forma a trazer para os investidores como as empresas lidam com a parte de conflito de interesses.
No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) trata esta parte no capítulo 5 do informe da Governança Estruturada, que vem sendo disponibilizada pelas empresas de capital aberto desde o ano de 2019.
No seu último ano de publicação, 2021, conforme dados capturados pela Bravo Research, a taxa média de aderência para o capítulo que trata de conflito de interesses foi de 58,5%, ou seja, pouco mais da metade das companhias de capital aberto no Brasil deram transparência para este assunto:
As empresas devem designar esforços para atender tal regulamentação e melhorar o tratamento do assunto internamente; é bom para o conselho gerir riscos, é bom para o investidor administrar seus riscos. Uma vez que a organização coloca a questão “para baixo do tapete”, ela perde a oportunidade de se tornar mais confiável, desenvolver processos mais ágeis, manter relações mais competentes e transparentes.
Dessa forma, boas práticas de governança para a gestão de riscos são essenciais para evitar prejuízos:
- Assuma que a situação existe e tenha o controle do assunto;
- Crie uma política clara e um código de ética e conduta;
- Comunique claramente o que espera de seus integrantes quanto nas relações internas e na interação com os principais stakeholders (clientes, fornecedores, acionistas e sociedade);
- Deixe claro os valores da empresa para os colaboradores e como isso se relaciona com a sua missão e estratégia;
- Estabeleça processos ágeis para captura dos riscos e da classificação do apetite ao risco;
- Por fim: Qual o limite de cada situação? Trazer exemplos claros para os colaboradores do que pode e o que não pode, estabelecendo a ideia de limites, ajuda e muito a orientação e atuação de cada um.
O tema Conflito de Interesses é uma grande oportunidade para iniciar uma jornada da Gestão de Riscos ESG na sua organização, trazendo para o cerne estratégico, os interesses dos stakeholders, criando indicadores para acompanhar contratações, aprimorar processos seletivos de fornecedores, colaboradores e tornar todo o processo mais ágil, transparente e humanizado.