Artigo publicado originalmente pela revista Exame
Grandes eventos esportivos como os Jogos Olímpicos e as Paraolimpíadas sempre deixam boas lembranças e marcas em todos nós. Das últimas Olimpíadas, realizadas no Japão em 2021, levaremos o logo Japan 2020. Além do ano discrepante, como lembrança teremos as arquibancadas vazias, uma consequência da pandemia da Covid-19.
Hoje, os Jogos Olímpicos, que já têm dois mil anos de história, são considerados o maior evento esportivo do planeta, com o objetivo estimular a competição sadia e justa entre os povos dos cinco continentes. E quando falarmos em justiça aplicada a diferentes povos do mundo, imediatamente a Governança se faz presente. Como dizia Pierre de Coubertin, considerado o fundador dos Jogos Olímpicos, “O Importante não é vencer, mas competir. E com dignidade”. E como garantir dignidade, transparência e justiça sem Governança? Não há como.
A Governança sempre esteve presente na organização de grandes eventos como os Jogos Olímpicos e as Paraolimpíadas, evoluindo em modelos, sistemas e programas ao longo dos anos, permitindo e sustentando toda estratégia e execução para tornar os eventos e a sociedade esportiva um ecossistema mais sustentável. A estrutura de Governança dos Jogos foi modelada e remodelada diversas vezes pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), desde 1894. Isso demonstra a sua constante evolução e atualização, capaz de absorver novas perspectivas, stakeholders e o status de ever changing risks.
Gerenciamento de Riscos nas Olimpíadas
Os processos de Gerenciamento de Riscos apareceram pela primeira vez no planejamento das Olimpíadas em 1988, nas Olimpíadas de Inverno de Calgary, utilizando pesquisas de eventos passados com o objetivo de avaliar a exposição a riscos e rever contratos para também avaliar riscos potenciais e outros pontos.Em 2010, nas Olimpíadas de Inverno de Vancouver, o Comitê Olímpico foi responsável pela completa implementação de um programa de ERM (Enterprise Risk Management), categorizando 53 áreas de desenvolvimento com riscos agrupados em: Anteriores aos Jogos, Durante os Jogos e Após os Jogos, criando assim uma cultura de gerenciamento de riscos a partir de uma perspectiva de gestão ativa, de antecipação a da materialização de riscos potenciais.
Em 2021, nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, buscando proporcionar um evento mais transparente e sustentável, o COI foi certificado por utilizar a padronização ISO 31000 para o framework de ERM, com o objetivo de ter processos e códigos claros na identificação, avaliação e gerenciamento dos riscos potenciais e seus devidos planos de mitigação. Além disso, o modelo de três linhas de defesa foi e vem sendo utilizado como uma forma de garantir uma robusta estrutura de Governança, com a preocupação de disseminar o Código de Ética durante os eventos esportivos.
“Be better, together for the planet and the people”, Riscos e Sustentabilidade
A organização dos eventos esportivos vem caminhando para um modelo colaborativo e sustentável, não ficando somente a responsabilidade ao COI, mas também a todos os stakeholders, os quais apresentam as suas preocupações, contribuem para estruturas mais sustentáveis e promovem boas práticas socioambientais.
Nas Olimpíadas de Tóquio 2020, a estrutura de Governança e Gestão de Riscos foi colocada à prova devido à situação global em função da pandemia da Covid-19. O slogan dos Jogos, “Be better, together for the planet and the people”, propôs uma mudança de perspectivas e transformações atuais. Os esforços para proporcionar iniciativas sustentáveis como as instalações com camas produzidas com papelão, medalhas feitas com materiais recicláveis e transporte com carros elétricos e autônomos contribuíram fortemente com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, deixando um legado real à sociedade.
Paris 2024: O que vem por aí
Todos esses aprendizados, tanto de Governança e Gestão de Riscos quanto de Sustentabilidade, são temas centrais para as Olimpíadas de Paris 2024. Num cenário de rápidas transformações e regulamentações mais rígidas e abrangentes que estão sendo formuladas e aplicadas a nível global, a Europa desponta como grande propulsora e incentivadora das boas práticas ESG e, dessa forma, Paris 2024 tem como grande objetivo proporcionar a toda comunidade local e internacional os Jogos mais sustentáveis do mundo, criando referências em Sustentabilidade e inovação para as próximas edições.
Neste contexto, Paris 2024 será a primeira edição de Olimpíadas a obter um certificado internacional de Sustentabilidade, a ISO 20121, que atesta as melhores práticas em Sustentabilidade na organização de eventos globais, reforçando o comprometimento dos Jogos em assegurar que a Sustentabilidade, a Gestão de Riscos e a Governança serão tratados com a máxima atenção. Será a primeira Olímpiada a estar alinhada com os objetivos definidos no Acordo de Paris para mudanças climáticas, tendo como uma das metas a redução em 55% da pegada de carbono dos Jogos, comparada à pegada de carbono de Londres 2012 e Rio 2016.
The ISO 20121 certification guarantees that Paris 2024 will have, from the very beginning, a sustainable management system that will exceed IOC expectations.
JEROME LACHAZE, HEAD OF SUSTAINABILITY, PARIS 2024
A Força-Tarefa Compliance 2024
Um grupo formado por especialistas em compliance de todo o mundo tem como objetivo garantir a conformidade dos Jogos com grande foco em questões de anticorrupção e direitos humanos, totalmente alinhado também com os ODS da ONU.
Assim como acontece em todas as empresas, a vontade, a organização e a Governança são pontos-chave para se alcançar os objetivos traçados em busca da concretização da estratégia almejada. Não podemos esquecer que em todas estas situações, seja nos eventos esportivos ou fora deles, há muito esforço, envolvimento e propósito que deixarão um legado para toda a humanidade.
Legenda Table 1:
IOC: International Olympic Committee
OCOG: Organizing Committee for the Olympic Games
NOC: National Olympic Committees
IFs: International Sport Federations
NGB: National Federation or Governing Body
OLYs: Olympic Athletes
RHB: Right Holding Broadcasters
GVTs: National or Regional Governments
CAS: Court of Arbitration for Sport
WADA: World Anti-Doping Agency
INGO: International Non-Governmental Organizations
Artigo publicado originalmente pela revista Exame