Hoje, dia 05 de junho, é comemorado o Dia Internacional do Meio Ambiente, data estabelecida na Conferência de Estocolmo de 1972.
A data nos faz pensar nos impactos humanos no meio ambiente. Em decorrência do aumento populacional nos países em desenvolvimento, da maior longevidade das populações e da intensa urbanização, é esperado o crescimento da demanda global por energia em 40%, por água em 50%, e a necessidade de expansão da produção de alimentos em 35%, até 2030.
Por que 2030? Quando o ano de 2030 entrou na agenda mundial? Em setembro de 2015, governos, empresas, sociedade civil e Nações Unidas fizeram um enorme progresso através da definição dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas 169 metas associadas, o que ficou conhecido como “Agenda 2030”.
Assim, globalmente, esforços têm sido empregados para estabelecer uma relação mais equilibrada entre a população, o ambiente e os componentes de produção de alimentos e energia. Os ODS estabelecidos sob a coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU) merecem especial destaque, pois visam garantir, até 2030, um planeta mais próspero, equitativo e saudável.
A expectativa é que a população mundial atinja 8,5 bilhões de pessoas em 2030. Tal previsão de crescimento da demanda por alimentos em um ambiente com recursos naturais finitos, em conjunto com os impactos pós-pandêmicos da COVID-19 e os efeitos da Guerra da Ucrânia ainda em curso, além dos crescentes requerimentos legais ambientais, pressiona a produção agrícola pela busca contínua por processos mais intensivos e, ao mesmo tempo, sustentáveis.
Nesse contexto, a agricultura e a alimentação estão no centro dessa agenda mundial, e vão muito além do ODS2 – “Fome zero e agricultura sustentável”, pois estão umbilicalmente ligadas à saúde e ao bem-estar (ODS3), uso e acesso à água limpa e saneamento (ODS6), uso e geração de energia limpa e acessível a todos (ODS7), investimentos em indústria, inovação e infraestrutura (ODS9), redução das desigualdades (ODS10), consumo e produção responsáveis (ODS12), e fomento em ações contra as mudanças climáticas (ODS13).
A agricultura impacta as mudanças climáticas, mas também é impactada por elas.
O Brasil desempenha um papel de protagonista no alcance das metas da Agenda 2030, estabelecidas pelos países membros da ONU, bem como nas discussões sobre o uso responsável e a conservação dos recursos naturais, sistemas agrícolas mais sustentáveis e redução de perdas e desperdícios.
Desde as últimas décadas do século passado, o país passou de importador de alimentos para um dos mais importantes produtores e exportadores mundiais, alimentando aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Os benefícios dessa condição possibilitam preços mais acessíveis aos consumidores, elevam a renda e a geração de empregos e impulsionam a participação da agricultura no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
A disponibilidade de recursos naturais, associada a políticas públicas e a competências técnico-científicas, é fundamental para a continuidade do desenvolvimento agrícola sustentável do país.
A Confederação Nacional de Municípios (CNM) realizou um levantamento dos prejuízos causados ao setor agropecuário em decorrência de eventos climáticos extremos entre os anos de 2013 e 2022. As secas foram responsáveis por 86% dos prejuízos na agropecuária no intervalo considerado no levantamento (R$ 186,2 bilhões), e as chuvas em excesso por 14% (R$ 30,3 bilhões).
O agronegócio representou 25,5% do total do PIB nacional em 2022 (ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio). O Agro possui um Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação da Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC). Esse plano consiste em uma política pública composta por programas com ações a serem realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis, que visam maior produtividade com a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) nas operações, a maximização da área agricultável atual e a manutenção do remanescente florestal em pé, que são responsáveis pelo sequestro de carbono.
O Brasil investiu e continua investindo em processos de intensificação sustentável, com destaque para a produção de duas safras por ano em uma mesma área. Não poderia ser diferente, pois, em abril de 2023, o Parlamento Europeu aprovou uma legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais desmatadas ilegalmente a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos aos 27 países que integram a União Europeia. A nova regra inclui importação de gado, café, cacau, soja, madeira, borracha, óleo de palma e derivados, como couro, móveis de madeira, carvão e papel impresso.
A dependência dos recursos naturais e dos processos biológicos confere menor margem de manobra ao processo produtivo e menor flexibilidade em decorrência de alterações de mercados, implicando em maiores riscos às atividades agrícolas. Aos riscos comuns a qualquer atividade, para a agricultura deve-se somar os riscos climáticos e bióticos. Isso faz com que os gestores das atividades agrícolas precisem monitorar constantemente questões de vulnerabilidade e adaptação das atividades agrícolas em relação às mudanças climáticas, e à mitigação dos potenciais impactos, utilizando estratégias e ferramentas tecnológicas inovadoras associadas a sistemas de produção e controle mais resilientes à mudança do clima.
O sucesso competitivo e sustentável da agricultura brasileira alcançado nas últimas décadas precisa ser intensificado e suportado por inovação e tecnologia para o aumento da produtividade na área agricultável já consolidada. O cenário demográfico dos anos vindouros deve também ser considerado como vetor de aceleração para a modernização do campo, assim como o fim do bônus demográfico e a consequente inversão da pirâmide demográfica, que implicará em menos mão de obra ativa para funções ligadas diretamente ao cultivo, colheita e manejo de rebanho.