O choque tarifário do governo Donald Trump 2.0 é sintomático de uma Ordem Internacional em crise. Ao longo do século XX, os Estados Unidos exerceram plena hegemonia, mas, no século XXI, enfrentam uma erosão gradual, porém cumulativa, de seus pilares econômicos. A reação protecionista surge como uma tentativa de recuperar a liderança no setor industrial e reprojetar o poder americano no cenário global. No entanto, essa nova estratégia implica no desmonte da ordem internacional construída ao longo do século passado, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, com o General Agreement on Trade and Tariffs (GATT), que depois virou a Organização Mundial de Comércio (OMC).
As raízes dessa crise, que é, também uma crise de hegemonia, remontam a fatores econômicos, políticos e sociais que se acumularam ao longo do tempo, mas que podemos ilustrar por meio de alguns eventos e tendências da conjuntura. Entre os fatores econômicos, se destacam a crise financeira de 2007/09 e a competição industrial e tecnológica chinesa.
Entre os fatores políticos, se destacam, no plano internacional, a projeção cada vez mais potente dos países do Sul Global e do BRICS, que vêm exigindo reformas da governança global no âmbito do Conselho de Segurança da ONU e da arquitetura financeira e monetária mundial. Além disso, entre os fatores políticos, podemos pontuar os recentes movimentos estratégicos da Rússia, com a anexação da Crimeia e a invasão da Ucrânia. Por fim, entre os fatores sociais, destaca-se a incapacidade do neoliberalismo de diminuir a desigualdade de renda e riqueza e promover maior justiça social.
Em 1930, os Estados Unidos adotaram a Smoot-Hawley Tariff Act, lei altamente protecionista que aumentou as tarifas de importação sobre os produtos agrícolas e industriais. Na esteira da crise de 1929, o objetivo era fomentar a economia por meio do incentivo à produção doméstica para a geração de empregos. No entanto, seu impacto foi severo: entre 1929 e 1933, o comércio internacional sofreu uma queda de 66%.
Se, naquele período, o impacto de uma guerra tarifária resultou em um declínio dessa magnitude, o que esperar de uma disputa comercial em um mundo onde os EUA enfrentam o “outono” de sua hegemonia e a economia global é muito mais interconectada?
De fato, em momentos de crise da ordem internacional, o contexto externo tende a exercer fortíssima influência sobre os resultados e decisões estratégicas das empresas. O aumento das incertezas torna complexa a tomada de decisões de investimento, sendo imprescindível fortalecer a gestão de riscos e oportunidades. Para fortalecer a gestão de riscos diante de um momento de crise extrema da ordem internacional, é importante saber ler os riscos globais e suas categorias, para que as empresas possam compreender sua exposição relativa.
A área de Insights da Ambipar ESG mapeou alguns dos principais riscos globais para o cenário de 2025, sob a perspectiva da economia e geopolítica mundiais, do desenvolvimento sustentável, da transição verde e dos direitos humanos.
É importante indagar quais são as oportunidades emergentes em cenários de incerteza e como se tornar resiliente aos riscos, valendo considerar, a exemplo do quadro acima:
- O meu setor está mais ou menos exposto a possíveis reduções dos fluxos de investimento?
- A minha posição financeira está adequada para o nível de riscos emergentes quanto à instabilidade monetária, eclosão de crises financeiras e incertezas em relação às trajetórias das taxas de juros?
- Tenho fornecedores alternativos bem mapeados para responder a rupturas abruptas das cadeias de suprimentos?
- Existe alguma oportunidade diante dos movimentos de near/friendlyshoring?
- A guerra comercial e tarifária pode apresentar alguma oportunidade ou a minha organização está apenas exposta aos seus riscos?
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