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Questão do clima: risco ou oportunidade? Uma decisão da liderança

Sucesso da agenda pode estar na união estratégica entre empresas e investidores

4 de agosto de 2022
Bravo ESG e Bravo Research
Artigo Questão do clima: risco ou oportunidade? Uma decisão da liderança

O Fórum Governança 4.0 é uma coprodução de MIT Sloan Review Brasil e Bravo GRC. Publicado originalmente no Fórum Governança 4.0.

O governo federal anunciou em maio a publicação de um decreto para regulamentar o mercado de carbono no Brasil, sustentado pela Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC, lei número 12.187/2009). Foi criado o Sistema Nacional de Redução de Emissões (Sinare), plataforma cujo objetivo é reunir digitalmente todos os registros nacionais sobre emissões, remoções, reduções e compensações de gases de efeito estufa, e o comércio de créditos e certificados envolvidos nas transações. Embora ainda seja necessário aprofundar os termos da regulação, que envolve toda a cadeia de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, o mercado recebeu bem a iniciativa, o que pode significar um avanço rumo à precificação dos gases do efeito estufa no Brasil.

As empresas que intencionam entrar nesse mercado ainda navegam em um universo de incertezas. Mas aquelas que já começaram a traçar planos podem obter vantagens competitivas dentro do setor considerado extremamente promissor no Brasil. A incipiência do mercado pode ser fator favorável, à medida que permite que a organização que deseja começar projetos com base sólida estruture desde cedo suas áreas, que entrarão em conformidade desde o início das operações direcionadas ao objetivo.

Trazemos aqui dicas, alertas e pontos a serem considerados pelas companhias que desejam desde já pensar em aproveitar as oportunidades ligadas ao mercado de compra e venda de carbono.

A boa governança reduz os riscos

O início sempre surge com insegurança, mas as diretrizes estão sendo trabalhadas e estão surgindo para amparar o mercado para um próximo passo. As empresas precisam se organizar agora para responder a esse movimento, olhando para a sua governança ambiental. É preciso se preparar para o cenário de emissão, compensação e de adequação de metas para responder às questões estabelecidas na plataforma Sinare.

Mapeando as oportunidades

O primeiro passo é a realização de inventários de emissão de GEE, para que sejam identificadas eventuais falhas e fortalezas no que diz respeito à mitigação de emissão dos gases. É preciso empreender uma investigação sobre o comportamento da empresa nessa esfera, tendo como objetivo mapear os pontos que podem mitigar os riscos e as oportunidades de forma eficiente. O mapeamento é importante para que se descubra as áreas nas quais serão necessários investimentos em inovação e tecnologia, para que seja possível uma transição de matriz energética, que deverá acontecer no médio e no longo prazo.

Antecipando os desafios

Buscar por soluções para a compensação e por ações de mitigação de emissão dos gases poluidores desde já ajuda a colocar a empresa em um caminho para não sofrer com processos de taxação, ou precisar comprar licenças que permitam poluir além do necessário. Esse ponto é de atenção, uma vez que as empresas que não acompanharem suas emissões, e não tiverem planos de diminuição, poderão sofrer com sanções. Ao se tornarem um risco aos investidores, podem sofrer impacto direto nas operações. Lembrando que o risco climático é iminente para todos, a melhor solução para antecipar os desafios e mitigar riscos é a união entre as empresas e investidores. Juntos, podemos buscar as oportunidades que levem ao avanço de ambos.

Metas de redução de GEE

O essencial, para detectar a viabilidade de entrada no mercado, é entender quem são os poluidores. A Bravo Research, braço de inteligência e pesquisa da Bravo GRC, está em processo de desenvolvimento de um estudo sobre esse assunto. Com dados disponíveis sobre emissões no Brasil a partir do Relatório de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Naturais (RAPP). O estudo trará luz a uma fonte de dados para planejar e executar as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE), chamadas de “NDC brasileira” – sigla em inglês para as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas. E, dessa maneira, contribuir com as metas do acordo de Paris, firmado pelo País.

Um segundo ponto é a regulamentação. Ela precisa ser clara e consistente o suficiente para que seja possível traçar os delimitadores para o mercado, ou seja, as regras dentro das quais ocorrerão as negociações. O decreto governamental ajudará nesse sentido. Em terceiro lugar, almeja-se que ocorra a aderência de muitos países, para que o mercado seja impulsionado e obtenha liquidez. Sabemos que China, Europa e Canadá já estão com iniciativas em precificação de carbono.

Agenda 2030

O novo normal é a ambição 2030. Não queremos chegar a esse ano emblemático sem bater as metas de descarbonização estabelecidas no Acordo de Paris. Assim, precisamos agir agora. A liderança é a peça-chave para engajar a agenda e cultivar o senso de urgência. É preciso buscar conhecimento e aumentar o nível de educação das empresas e da sociedade sobre a questão climática. Já dispomos de informação o suficiente para atestar a necessidade de ação. Temos movimentos como a Agenda 2030, Stockholm +50, COP. Nossa orientação é que as empresas iniciem suas agendas climáticas, olhando para as externalidades negativas e insiram no seu modelo de negócio estratégias para reduzir e compensar emissões de carbono.

Capitalismo consciente

Todas as empresas podem direcionar recursos para a conservação ou regeneração do meio ambiente. Preferencialmente, proporcionais ao seu grau de externalidade negativa. O negócio que já considera os temas ESG, naturalmente está inserido no chamado capitalismo consciente. E traz, em si, o conceito de preservação e prosperidade para o planeta e a sociedade. As empresas que não trazem a visão do capitalismo consciente para a sua operação apresentam um padrão no qual enxergam o tema ESG como uma despesa, um obstáculo, uma distração de baixo valor e, para alguns, uma iniciativa que impacta o business a ponto de descaracterizá-lo. Não veem o valor agregado nem compreendem a responsabilidade de impacto que têm em mãos. Ainda há a crença e o receio de que ESG e sustentabilidade financeira são aspectos excludentes e que competem entre si. A experiência tem comprovado que empresas que incluem temas sociais e ambientais constroem reputação positiva junto aos seus principais stakeholders. Essa reputação reverte em confiança que, por sua vez, é a base das relações comerciais e financeiras.

Portanto, as empresas não capitalistas conscientes têm uma jornada mais árdua, pois culturalmente não estão preparadas nem disponíveis para a agenda ESG. Esse é o passo mais importante a ser dado e tem a liderança como o principal sponsor.

Decisões estratégicas

Cabe à liderança construir os alicerces da governança consciente e direcionada, que inicia seu plano de ação identificando a materialidade e estudando profundamente o modelo de negócio e ecossistema, para promover oportunidades e mitigar riscos junto aos stakeholders, considerando as prioridades. É aconselhável incluir a tecnologia como uma força impulsionadora do ambiente ideal para a tomada de decisões estratégicas, por meio da formação de um banco de dados, auditoria e monitoria das atividades, além da criação de indicadores válidos e reconhecidos pelo mercado financeiro. Esse pode ser um caminho sólido a seguir.

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