Infelizmente, não faltam evidências da materialização dos riscos climáticos. A cada mês, novos eventos climáticos extremos invadem os noticiários. Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cerca de 3,3 bilhões de pessoas vivem em contextos altamente vulneráveis à mudança do clima. No último relatório sobre Riscos Globais do World Economic Forum, os eventos climáticos extremos aparecem como o principal risco no prazo de 10 anos. As perdas financeiras decorrentes desses eventos em 2023 foram de US$ 380 bilhões. E de vidas, 95 mil.
Os impactos adversos da mudança do clima atingem a disponibilidade hídrica e a produção de alimentos, a saúde e o bem-estar das pessoas, as cidades e suas infraestruturas, a estrutura dos ecossistemas, a biodiversidade e as estações do ano. A revista The Economist divulgou uma previsão de investimento necessário da ordem de US$ 25 trilhões para a adaptação das habitações, especialmente devido ao possível aumento do nível do mar em vários locais do mundo. Outra pesquisa recente estima uma perda de renda anual global da ordem de US$ 38 trilhões devido à mudança do clima. Em síntese, o impacto será sobre a habitação, a alimentação e a renda das pessoas, apenas para mencionar o mínimo.
Para entender em que magnitude o clima poderá mudar no futuro, mais de 20 entidades científicas desenvolveram diferentes modelos climáticos que simulam aspectos físicos, químicos e biológicos vinculados à atmosfera, aos oceanos e à terra. Agregadamente, essas entidades constituem o Coupled Model Intercomparison Projects (CMIP), que fornece as projeções de emissões de gases de efeito estufa em diferentes cenários.
Atualmente, existem dois grupos principais de cenários projetados pelo CMIP: os Representatives Concentration Pathways (RCPs) e os Shared Societal Pathways (SSPs). O primeiro traz simulações de concentrações de gases de efeito estufa usados para produzir modelos climáticos futuros, ao passo que o segundo indica cenários de como a sociedade pode evoluir globalmente nas próximas décadas (considerando, por exemplo, o crescimento populacional, econômico e tecnológico), afetando as concentrações de gases de efeito estufa. Esses cenários devem ser usados de maneira integrada para realizar análises de diferentes naturezas.
No contexto das empresas, a avaliação de risco climático se dá aplicando esses modelos científicos (RCPs e SSPs) para estimar como cada uma das ameaças climáticas — secas, inundações, incêndios, terremotos, ciclones, entre outros — pode impactar as operações, seja sobre os seus ativos ou sobre a sua cadeia de valor. Em linhas gerais, essas análises de risco climático têm a finalidade de avaliar o potencial impacto financeiro sobre as empresas.
Para alguns setores, como no agro, por exemplo, entender os volumes simulados de precipitação diária extrema ou a quantidade de dias muito quentes, atreladas ao tipo de solo e ao relevo, pode ser vital para a projetar a capacidade produtiva no médio prazo.
Os detentores de capital — sejam investidores ou bancos — estão cada vez mais atentos aos riscos de investirem em empresas que podem ser adversamente impactadas pela mudança do clima e, portanto, vêm demandando cada vez mais informações sobre esses riscos.
Nesse contexto, a recente resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige que, a partir de 2026, as empresas brasileiras de capital aberto obrigatoriamente publiquem seus relatórios de risco climático, o que demandará que executem análises usando os critérios e modelos científicos. Essa mesma exigência também está acontecendo em diversos países do mundo e, com isso, nos próximos anos será possível fazer análises de risco e retorno inserindo-se a variável climática para comparar diferentes empresas.
Em resumo, todas as empresas — mesmo as de capital fechado — devem começar a se preparar para avaliar seus riscos climáticos, tanto para conhecer seu nível de exposição e tomar ações mitigatórias quanto para evitar estarem sujeitas à escassez de capital para financiamento de suas operações.